2.7.09

Me and my life



Num dia, de amanhecer incerto, existia a certeza, - era a unica - tu existias.

Desde menina, sempre sonhava com um amor muito especial, que me iria resgatar para ser feliz, como nas histórias de encantar. Esse amor, viria de cavalo branco... Olhei-te nos olhos e senti-te. Uma vibração dentro de mim reconheceu-te. Começamos a caminhar lado a lado, - mas aquela manhã incerta estava lá.

A descoberta, - a nossa descoberta. Descobrimos juntos a magnificiência de um por do sol, um piquenique ao luar, um chá na praia...descobrimos que apenas nos estavamos a reencontrar. A reencontrar nas estrelas, na caricia do Sol, no luar prateado, no eterno movimento do vento.

Eu a descobrir a vida queria-te presente,

Eu romântica, queria correr descalça e cantar na praia,

Eu menina queria guardar-te só para mim.


A manhã incerta - tinha a certeza de que eu não estava preparada para tanta vibração.

Fugi de ti, encostada a mim, assumi a inconstância emocional, - pedi a cura, não o quero magoar, afirmei.

A minha vida sempre foi facilitada, de familia humilde, eu tive todo o amor, todo o amor que me sabiam dar, bonecas de trapos, panelas de lata, livros de pintar, uns sapatos novos no Natal...sinto falta do calor de um abraço, de um beijo terno de boa noite e de um dorme bem aconchegado pela roupa da cama. Os anos foram passando, e eu exigia pela vitimização um carinho - que vazio, pela manipulação eu aceitava o que eu queria, com o apego eu dominava, com as enxaquecas eu podia ficar no meu canto, preparando a proxima actuação. Os comprimidos andavam lado a lado comigo, eles eram cumplices das minhas exigências.

Ria quando queria chorar,

Chorava para não fugir, fugir para onde? de quem? como posso fugir de mim?

Não me consigo enfrentar.

Os anos foram passando lentos, o mau estar aumentava, as enxaquecas que me levavam de urgencia ao hospital, os ataques de panico, a angustia, o medo...do frio, da chuva...da manhã incerta - procurava o sol, - o Sol não era suficiente para me aquecer.

Naquela manhã incerta, eu tive a certeza que não ia aguentar muito mais. O corpo tremia exausto, a cabeça pendia, a respiração fraca...

Descobri o Reiki, em Janeiro de 2007, deixei os comprimidos (6 p/dia), querendo um caminho novo.

Comecei a desmontar, a desmontar-me.

Entre a terapia de reiki, o trabalho de casa... Nessa manhã incerta vi o teu sorriso. Foi Luz no meu caminho.

Amor incondicional? o que é? Decide enfrentar tudo o que tinha a enfrentar. Enfrentar-me era o mais dificil, entrar em mim e perceber no que me tinha tornado estes anos todos. A confusão era tanta que eu não sabia o que era certo ou errado, mas tudo está certo, porque o errado? Era a primeira questão. - Viver no presente, pensando no passado, com medo do futuro?

Dia após dia... correr na praia até á exautão, isolada de todos - Aceitei.

Aceitei a depuração, - aceitei.

Aceitei, chorar dias seguidos, - aceitei

Aceitei questionar-me, em quem me tornei? - aceitei

Aceitei, dia após dia, que o Universo me revelasse, para eu tomar consciência e fazer as escolhas - aceitei

Aceitei, aceitei ser conduzida pelo Universo, nesta vida onde a entrega, define o nosso percurso.

Entreguei, a minha vida nas maõs de Deus.

Hoje em manhã certa, nossos caminhos voltaram a cruzar.

Hoje manhã certa, essencia de mim - descobri.

Hoje em manhã certa, ao acordar, acompanha meu dia um sempre colorido - Don't give up

Hoje agradeço, ontem agradeço,

Aos Amigos, sempre prontos a florir meu caminho, foram tantos.

Apareceram de vários cantos do Mundo, só para eu fazer a aprendizagem, e em cada gesto, eu sentia, não estamos sós - nunca estamos sós.

Ao Universo - mão invisivel, aos Mestres e guias, Anjos e Arcanjos eu agradeço.

Hoje em manhã certa continuo... mas sinto o calor do teu sorriso, bem pertinho,

onde quer que estejas, - bem pertinho sinto o teu sorriso.

Me and My Life







A 1ª História de Ana

Esta é a história da minha amiga Ana.
Este ciclo teve início em 2001.
Esta avaliação de vida foi feita em 2003.
Hoje, Ana tem muitas mais histórias para contar, mas por agora vamos ouvir a 1ª História de Ana.

- Era uma vez uma mulher, que ao chegar muito perto da meia-idade e após uma vida de acomodação e conforto, teve, bruscamente, e num lapso de tempo muito curto o que se chama um volte-face. Um abanão, mas daqueles que é mesmo para acordar.
Ana vivia dentro do seu casulo, sem sobressaltos, cuidando da sua bela família, marido e dois filhos, pais, muitos parentes e amigos, que conviviam em harmonia. Tinha estabilidade económica, era profissionalmente realizada, independente, e considerava-se feliz.
Ana tinha os seus pontos fracos como qualquer ser humano e um dos mais distintos era o apego, eu diria mais, apego, imbuído de muito amor:
- Apego ao marido que considerava seu, ainda que se calhar esquecendo-se de mimar, fertilizar ou regar a “ propriedade” como devia.
- Apego aos filhos que considerava uma continuação dela, exigindo que fossem no mínimo uma cópia sua e aplicando a sua célebre frase:
- Se eu posso fazer, os outros também podem. Esquecendo, que cada ser humano é único, no seu ritmo, no seu padrão, sem no entanto ser inferior a qualquer outro.
- Apego á sua profissão que lhe dava independência e autonomia, condições tão importantes para ela. Sim! Porque aliado ao apego, Ana tinha outro traço, que era o orgulho, e sentia-se muito bem consigo mesma, ao não precisar de nada nem de ninguém.
Mas, dirão, Ana não tinha pontos fortes para equilibrar esses, e outros pontos fracos?
Claro que sim, e muitos, que definiam a sua imagem perante os outros como uma pessoa bondosa, dinâmica, resoluta, de carácter forte mas justo..... Aquela com quem sempre se podia contar.
Na Primavera de 2001, num dia igual a tantos outros, Ana recebe o primeiro e mais forte impacto, a sua filha, após grave acidente, encontrava-se entre a vida e a morte.
Ela sempre fora uma mulher de Fé, dentro da sua confortável vida existiram dois momentos de grande angústia, relacionados com doenças do marido, em que ela soube intuitivamente que seriam ultrapassados de forma positiva. Nesses casos, pediu ajuda e a ajuda veio.
No entanto agora, perante esta nova prova, Ana teve medo, muito medo....pediu, pediu mas a sua intuição não lhe dava sinais de ser escutada. Num corredor sombrio de hospital e pela primeira vez na sua vida, ela sentiu o peso da sua insignificância, da sua incapacidade, da sua limitação. O seu arrojo habitual de nada lhe servia agora. O seu grande apego á filha não lhe servia de moeda de troca para a resgatar á morte. Então, ela não pediu mais, ofereceu, ofereceu tudo aquilo a que esteve toda a sua vida apegada, sem discriminar, abria mão de tudo aquilo que o Universo quisesse receber, e abria-se a tudo aquilo que o Universo quisesse enviar-lhe.
Milagrosamente a filha salvou-se e nos meses seguintes de recuperação, Ana agradeceu e esperou....
Profissionalmente as coisas começaram a correr mal, ainda hoje Ana não sabe se a conjuntura para os negócios ficou má ou se, sem saber porquê, se tornou incapaz, e os resultados negativos surgiram. Mas ela tinha esperança e esperou......
Alguns meses se passaram, e de novo, numa noite igual a tantas outras, o marido de Ana o seu marido, recolheu numa mala de viagem 27 anos de vida em comum, sonhos, ilusões, bons e maus momentos e foi-se embora. Tinha conhecido outra mulher e queria “viver o que não tinha vivido “ como afirmava aos amigos.
Aos poucos dias, a Mãe de Ana já sobrecarregada de doença, sofreu uma trombose que a deixou em incapacidade física completa mas não mental, pelo que Ana ainda conseguia ler no seu olhar e apenas no olhar, o sofrimento, não por ela mesma, mas pela filha, o que era um peso redobrado para Ana.
Sentia também a dor, o atordoamento dos filhos, a acusação não expressa, a desilusão, afinal a Mãe deles não era infalível, havia coisas que ela não podia resolver. Sentia a perda de outros membros da família, a do marido que sempre considerara e sentira como sua e que sem ela entender o porquê, se afastaram também. Sentia a estrutura familiar a sua família a desabar, tijolo a tijolo.
Ana, juntou num molho: a tristeza pelo amor perdido, o orgulho ferido, a solidão que assomava, o desaparecimento da auto-estima e atou este molho com um laço de amargura cujo peso começou a afundá-la. Mas ela tinha Fé e esperou.
E então surgiram muitas pessoas, cordas, de diversos tipos e tamanhos que se desenrolavam até ela, uma em especial, uma corda sábia e forte que a mantinha á tona, explicando, ensinando, e que lhe disse, agora sobe.... “ se quiseres claro “ porque esta corda além de sábia e forte é também muito democrática. Havia também cordas ensebadas que ao tentar assir-se delas a faziam cair de novo. Havia cordas vistosas mas curtas, que apesar da oferta pareciam recuar sempre que tentava apanhá-las.
Surgiu também, e do nada, outra pessoa, uma espécie de trampolim, (como aqueles que se usam nos circos para receber os trapezistas) e que serviu de amparo quando Ana caía. Além de a amparar, esta pessoa fê-la conhecer sensações novas, gerar ilusões, repor a auto-estima, e algo que há muito não fazia, sonhar. Tudo isto a catapultou para fora do poço, devolveu-a ao seu Eu, á sua dimensão, ao lugar donde devia estar para continuar a sua missão.....
A sua mente voltou a ganhar lucidez, o seu Espírito abriu-se, a sincronicidade tornou-se habitual, faz parte do seu dia-a-dia. Tal como o fio que se vai puxando de uma meada, Ana vai recebendo informação de diversas fontes. Aquilo que precisa saber, aparece na hora certa. Mas ela agora sabe que as coincidências não existem, tinha chegado a hora do despertar.
A sua família formava-se de novo, os tijolos agrupavam-se. Não com as mesmas características, a sua família era agora muito maior, o seu coração abriu-se para acolher a todos aqueles que foram cordas para ela. As boas e as menos boas, e também para aqueles a quem ela agora possa servir de corda. A sua família, são também os companheiros de jornada, que devido a essa mesma sincronicidade se juntaram e buscam como um todo, a Ascensão.
Os filhos, provavelmente reconfortados pela serenidade que Ana demonstra agora, iniciaram a reaproximação. E ela tenta que eles entendam que os elos que os unem são indestrutíveis, separados, ou juntos. Que a situação vivida serviu para que ela os olhasse como entidades autónomas, cada um com as suas características, a quem ama de forma incondicional, com menos apego e mais respeito. Aquela pessoa que se cruzou no seu caminho e cuja ternura a fez desabrochar, resplandecer (sim, porque o amor dado ou recebido tem esse poder de nos fazer irradiar luz) o seu querido trampolim, ainda que distante, será para sempre parte integrante do seu Ser. Porque o Amor está em nós, e tal como uma tatuagem, fica gravado no nosso Espírito e como ele, torna-se Imortal.
Ana nunca teve apego ao dinheiro, mas tinha-o á capacidade que o dinheiro lhe dava de oferecer bens materiais a quem a rodeava. Talvez fosse esta uma forma de suprir a sua insegurança e necessidade de ser amada. Hoje, Ana já não pode oferecer bens materiais, mas sabe que tem outros bens muito mais valiosos, o seu carinho, tolerância, compreensão, o seu abraço, ou simplesmente, quando o seu amigo chora, ela junta as suas, ás lágrimas dele.
Consciente dos seus pontos fracos, Ana tenta transmuta-los, nem sempre com êxito, mas tenta. Soma todos os seus apegos perdidos e sente o quanto ganhou ao despertar para outra realidade, a de que somos um Espírito a ocupar temporariamente um corpo físico, e não um Corpo com um espírito.
E que a nossa perspectiva tem que ser a do Todo, a da Unidade.
Tem diariamente muitas lutas pela frente, mas vê-as como a forma de servir, de cumprir o seu contracto. Aprende a controlar o seu ego, para que o apego não volte a ser a demonstração das suas inseguranças. Aprende a que o Amor incontido que sente jorrar dela, seja de todo, incondicional …
Este é o caminho de Ana, caminho que ela está a percorrer, e como diria o grande Machado: “faz-se caminho ao andar “ ................. Que ela continue no trilho certo.

Aqui termina o resumo de dois anos (2001 a 2003) da vida da minha amiga Ana. Ela deseja que as suas vivências possam servir de: exemplo, estimulo e força, a quem deles possam precisar. Ela envia-vos todo o seu Amor.
A.

Há já alguns anos....

que não tenho ninguém comigo e agora que vou fazer 60 anos em Agosto muito menos - aproveito para informar que tive o meu despertar isoladamente em 1999 - só entre mim e o Divino - e que a partir daí tudo desapareceu da minha vida passada...e eu sem perceber nada do que me estava a acontecer. Só percebi através de um sonho e a seguir...por uma vontade incontrolável de querer ir a Santiago de Compustela e nem eu sabia muito bem o que ira lá fazer...percebi no caminho de 11h de camioneta. Fui sózinha e o Plano tudo organizou para que a viagem e estadia se efectivassem.

Depois aprendi Reiki - sem pagar - porque penso e todos os "sinais" vêm ter comigo nesse sentido de que não se mistura o que é de César, com o que é de Deus...embora muitas pessoas me tentem provar o contrário, eu mantenho-me incorruptivel - até porque chegam depois respostas vindas do Alto de todas as formas! - curiosamente tenho uma caixinha onde existem inúmeros cartões em cartolina de várias cores com frases de vários livros desde o da sabedoria, dos provérbios e outros e está sempre a sair-me o seguinte: "Quem perseverar até ao fim, será salvo!" - eu tomo isto pela minha persistência.

Inclusive, pessoas há que me convidaram a participar em centros holísticos e não só, mas ao saberem que não levo dinheiro a não ser noutros tratamentos que não mexa com energia - massagens e terapias geriátricas, ou florais de Bach - Reiki, limpeza prânica e alinhamento de chakras segundo a oração do PAI Nosso, nada cobro. Como não tenho qualquer espaço, vivo da minha reforma da qual não me sobra nada - embora já tivesse carro e motorista enquanto quadro da Presidência do Conselho de Ministros e até andei com batedores quando fazia parte da Comissão o 10 de Junho agraciada pelo então Preseidente da República; António Ramalho Eanes no Dia de Portugal. Paradoxalmente, hoje até recebo roupa das pessoas que me queiram dar porque o frio em Sintra é demais, mesmo no Verão - enquanto antigamente tinha aos 16 pares de sapatos ou mais e vestia-me em boutiques e Lojas de Meias - sem nunca esquecer o meu proximo. Sempre dei de comer a quem tinha/tem fome, dei de beber a quem tinha/tem sede, visitei nos hospitais, aqueci com roupas, e não só, visitei nas prisões...por isso não tenho medo que me falte nada, nunca!!! É por isso que sei que o que o Universo faz è justo e bom para mim e só Ele me conduz e sustenta, porque eu não tenho mais ninguém com quem contar! E vivo feliz e com humor.. Não tenho medos. Portanto veja a minha situação...mas não dá para supérfluos a não ser a net; e nunca me sobra dinheiro ao fim do mês...por vezes dá-me vontade de rir...chego a ter 1Euro faltando uns 8 ou 10 dias para receber a minha reforma...mas como compro alimentação que coloco no congelador pra o mês inteiro, nunca passo fome...como sou meia vegetariana, porque ainda como peixe...nunca passo fome.

Quando ao sexo, dá a sensação que as pessoas descobriram nesta definição que pode dar para tudo...o mais intrigante é que dá a sensação que ele, o sexo, só se descobriu agora tal é o seu "poder", atracção, descrédito...vergonhoso até!

No Universo tudo é masculino feminino, nenhum ser tem relações sexuais com penetração...no Cosmos!!!

Como isso se fará? Tal como o filme Coccoon? - em que um dos intérpretes como ser de outro plano tocava com um dedo uma rapariga do planeta terra que sentia um impulso quase eléctico...porém não sei como nós aqui, o podemos exercer, sem ser como prazer carnal tipo animal?

Cordialmente deixo a saudação que utilizo como em MU

ESPAVO! reconhecendo a LUZ que há em SI.

20.5.09

Quando eu era...

pequena o meu pai adorava brincar comigo, eu mesmo assim não queria sentir a presença dele, quando cresci, sem perceber porque comecei a ter medo, medo de o ver, medo de ouvir a sua voz – o meu pai porque?
Perguntei eu tantas e tantas vezes, mas era assim e nada podia fazer para evitar o que sentia. O olhar dele transtornava o meu dia, deixava de ser eu, mas porque meu pai? Porque tudo aconteceu sem que nada fosse possível fazer para melhorar a nossa relação, o nosso dia a dia..
Meu pai, lembras quando fui à escola pela primeira vez?
Sabes pai tu estavas escondido, escondido de mim, do mundo, porque hoje sei que também tinhas medo, medo de me perder, medo que eu sofresse, um medo que fugia do teu controlo.
Mas, meu pai, nós vamos fazendo o que a vida nos pede, hoje sei que o nosso caminho está ligado connosco. Meu pai agora sei que o que fui e o que foste, é tudo tão igual.
Hoje sei que sofreste como eu sofri, hoje sei que os nossos percursos foram tão iguais, medos, inseguranças e a necessidade de um carinho, de um abraço sentido, de um simples toque que nos aquece a alma, de um sorriso que nos leva a outras vidas e assim transpomos o nosso próprio “EU”.
Meu pai lembras-te quando brincavas comigo?
Como riamos meu Deus, riamos a bom rir, com uma felicidade estampada no rosto, eu e tu meu pai, o que hoje a vida nos afastou, noutros tempos uniu as nossas vidas, porque eu e tu meu pai deixamos para trás o que hoje já não conta, o que hoje deixou de fazer sentido.
Meu pai foste o meu elo com a vida, deste-me os primeiros sorrisos e tiraste-me o meu primeiro riso.
Naquela madrugada serena onde eu e tu olhávamos as estrelas lembraste, meu pai?
O que vimos? Estrelas? Não. Deixamos de ver tudo o que era para nós, porque veio uma nuvem e cobriu os nossos horizontes, tapando a vida edificada em nossos corações – porque meu pai?
Deixaste que os meus sonhos de menina caíssem na terra lamacenta da vida, deixaste de viver para eu crescer, mas meu pai eu só queria amar, brincar.
Quiseste que eu crescesse depressa, assim podias moldar os meus sonhos de menina, mas meu pai tiraste-me o sorriso - Deixei de sorrir, porque tu querias preparar um mundo só para mim.
O tempo esse corria tão devagar, que cada sorriso contido não deixava correr o ar da vida que eu tanto ansiava.
Meu pai ainda hoje sinto que na penumbra do meu quarto, o teu sonho não era o meu, que a vida que tu querias não era aquela que eu pensava.
Meu pai, não tive vida, só sonhos ficados ao acaso, que caíram e destruíram os sonhos almejados nos vales daquilo a que tu chamavas crescer.
Meu querido pai a tua vida não foi fácil, na tua experiência de criança, tu tiveste que crescer sozinho – eu sei, mas meu pai – tens tanto de mim que sendo tu, não deixaste florir o meu coração.
Aquela menina de cabelos aos cachos, lembras? Parecia uma “molatinha”, lembraste pai?
Tanto orgulho tu sentias de mim, passeávamos de mãos dadas, o meu cabelo oscilava como uma mola, o caracol do meu cabelo negro subia e descia, vibrava com a segurança que me davas. Mas, sendo eu criança serena com vontade de viver, de sorrir de agarrar a vida, não sabendo bem porquê o mundo ruiu no dia que me mostraste que eu tinha que crescer sem meninos, com brincadeiras escondidas atrás da saia da avó.
A avó encobria com a sua saia preta as minhas lágrimas de menina com medo.
A tristeza estampada no meu rosto, que o meu coração teimava em não perceber.
Quando me disseste com o rosto fechado “muito riso pouco siso”, já era eu uma adolescente a espigar tristeza.
Tanta vontade de rir de correr, molhar os pés nas pocinhas criadas pelas gotas envergonhadas da chuva e fugindo do teu rosto fechado e à “sucapa” eu saltava naquela mesma poça que o céu tinha colocado para mim.
“Não vi mãe” – dizia eu sorrindo para Deus que era o meu cúmplice nas mentiras que eu teimava em inventar para assim brincar.
Tendo vivido no seio de uma família onde o medo pairava no ar, era tudo tão normal.
A minha avó tinha medo do meu avô, avô que a minha mãe receava, porque a vida duvidava que ela fosse aceite, o meu pai com medo do pai, a minha mãe com medo do meu pai, até com medo das minhas alegrias de criança, das minhas inseguranças de adolescente que podiam incomodar o meu avô, o meu pai.
E eis que tu minha querida apareceste leve e insegura, entre a vida e a morte, decidiste ficar, tu querias mesmo sendo quem és, sendo como és, tinhas decidido mudar aquilo que tu acreditavas poder ser mudado.
Naquele dia de sol alegre forte ... tu eras a alegria daquela casa.
Nasceste de 8 meses, mas com a força e uma percebe rança que só tu.
Quando chegaste a casa de cabelo loiro, franzina, não sei o que pensei, mas aceitei-te e pensei, agora sim vou brincar, tenho uma irmã para dividir as minhas poucas bonecas, os meus contos, agora sim juntas podemos juntar sorrisos e na vergonha daquilo que nós chamamos desgosto, existe vida, vida da mais pura.
Tu estavas ali deitada, sorrindo e sempre deitada.
Os nossos pais fizeram tudo o que sabiam, o melhor que pudiam para tu andares, porque o sorriso, esse minha querida estava sempre estampado no teu rosto. A força era visível quando gritavas, as pernas os braços e até o teu olhar gesticulavam alegria, vontade de ficar.
O pai trabalhava incansavelmente, com as suas dores de cabeça e sempre com o rosto coberto com uma nevoa.
Olhava o prato da sopa a horas tardias, com o rosto crispado de dúvidas, sozinho...sentia-te tão só meu pai! Mas eu queria brincar...mas não podia, porque te doía a cabeça e não tinha a tua mão porque estavas a trabalhar!
A mãe preocupada com a minha irmã completamente indefesa para o mundo... e eu queria brincar, correr pelos campos, tirar os chinelos, sentir a vida a fluir nas veias.
Mas neste mundo de vida incerta, a única certeza que tinha era o riso escondido estampado na sombra do meu quarto, que nem meu era - era do meu avô.
Sempre vivemos com os meus avós, eu tinha o espaço do quarto onde a minha privacidade era invadida quando o meu avô achava que o meu sorriso incomodava.
Tinha de meu - um quarto de brincar com uma caminha, duas mesinhas e um armário, e a boneca pequena e frágil que dormitava sem sorriso naquela caminha vestida de cor de rosa com os meus sonhos de criança.
Gostava de estar ali e inventar a felicidade no rosto daquela boneca, porque ela sorrindo eu sorria e se ela falasse comigo, Oh meu Deus – era o meu sonho, porque ninguém falava comigo, ninguém escutava as incertezas do meu desabrochar, só “Alice”, a minha boneca.
Eu e Alice escondidas no nosso mundo íamos descobrindo as nossas pequenas alegrias num mundo nosso de tristeza.
Porque só nos tínhamos a nós, e sedenta de amor eu cozinhava para ela, naquelas panelas que o Pai Natal deixou um dia no meu sapatinho.
Eu cozinho algo delicioso para Alice.
Quando ninguém estava por perto o “Nestum” da minha irmã era o deleite de um pequeno manjar:“Nestum” com açúcar para mim e para Alice – ela silenciosa culpava-me por estar a tirar aquele alimento que era só da minha irmã eu – deliciava-me com o sabor doce e angustiante, com a culpa da mentira.
Certo dia tendo cozinhado a nossa refeição preferida, sempre a mesma – olhei Alice e ela estava mais triste do que o costume – “O que foi Alice?” - perguntei eu.
Alice falava comigo pelo olhar - “Estás a crescer, vais esquecer-te de mim, vais ter outras meninas para brincar e até vais esquecer o meu nome” – DUVIDEI. – como posso esquecer-te?
A minha companheira de incerteza, de silêncio, de rumo sem resposta - “Não, nem penses vais ficar sempre comigo!”
Não foi assim, a escola chegou e com ela, o meu mundo ruía, não tinha Alice e não sabia brincar.
Quando amanheceu, eu queria esconder aquela ansiedade, mas não consegui, queria enfrentar aquele novo mundo, mas não consegui.
A escola era grande, corredores largos – mas escura, as empregadas andavam de bata aos quadradinhos, a minha professora era a D. Lurdes, meiga, calma e compreensiva, as minhas colegas muito agitadas, lembro bem, riam muito, brincavam ao apanha e ao esconde, eu ? - via ,mas ...segurava aquele pão com manteiga.
Quando chegava a casa corria contar a Alice as minhas brincadeiras, os jogos que tinha aprendido, as letras que soletrava -Alice ouvia, não respondia, mas eu sentia que ela estava triste, por não ir comigo, assim um dia escondi Alice na pasta e fui feliz, não me sentia sozinha.
Alice passou a ser a minha companheira de carteira, ela escondida eu confiante....
Maria