Esta é a história da minha amiga Ana.
Este ciclo teve início em 2001.
Esta avaliação de vida foi feita em 2003.
Hoje, Ana tem muitas mais histórias para contar, mas por agora vamos ouvir a 1ª História de Ana.
- Era uma vez uma mulher, que ao chegar muito perto da meia-idade e após uma vida de acomodação e conforto, teve, bruscamente, e num lapso de tempo muito curto o que se chama um volte-face. Um abanão, mas daqueles que é mesmo para acordar.
Ana vivia dentro do seu casulo, sem sobressaltos, cuidando da sua bela família, marido e dois filhos, pais, muitos parentes e amigos, que conviviam em harmonia. Tinha estabilidade económica, era profissionalmente realizada, independente, e considerava-se feliz.
Ana tinha os seus pontos fracos como qualquer ser humano e um dos mais distintos era o apego, eu diria mais, apego, imbuído de muito amor:
- Apego ao marido que considerava seu, ainda que se calhar esquecendo-se de mimar, fertilizar ou regar a “ propriedade” como devia.
- Apego aos filhos que considerava uma continuação dela, exigindo que fossem no mínimo uma cópia sua e aplicando a sua célebre frase:
- Se eu posso fazer, os outros também podem. Esquecendo, que cada ser humano é único, no seu ritmo, no seu padrão, sem no entanto ser inferior a qualquer outro.
- Apego á sua profissão que lhe dava independência e autonomia, condições tão importantes para ela. Sim! Porque aliado ao apego, Ana tinha outro traço, que era o orgulho, e sentia-se muito bem consigo mesma, ao não precisar de nada nem de ninguém.
Mas, dirão, Ana não tinha pontos fortes para equilibrar esses, e outros pontos fracos?
Claro que sim, e muitos, que definiam a sua imagem perante os outros como uma pessoa bondosa, dinâmica, resoluta, de carácter forte mas justo..... Aquela com quem sempre se podia contar.
Na Primavera de 2001, num dia igual a tantos outros, Ana recebe o primeiro e mais forte impacto, a sua filha, após grave acidente, encontrava-se entre a vida e a morte.
Ela sempre fora uma mulher de Fé, dentro da sua confortável vida existiram dois momentos de grande angústia, relacionados com doenças do marido, em que ela soube intuitivamente que seriam ultrapassados de forma positiva. Nesses casos, pediu ajuda e a ajuda veio.
No entanto agora, perante esta nova prova, Ana teve medo, muito medo....pediu, pediu mas a sua intuição não lhe dava sinais de ser escutada. Num corredor sombrio de hospital e pela primeira vez na sua vida, ela sentiu o peso da sua insignificância, da sua incapacidade, da sua limitação. O seu arrojo habitual de nada lhe servia agora. O seu grande apego á filha não lhe servia de moeda de troca para a resgatar á morte. Então, ela não pediu mais, ofereceu, ofereceu tudo aquilo a que esteve toda a sua vida apegada, sem discriminar, abria mão de tudo aquilo que o Universo quisesse receber, e abria-se a tudo aquilo que o Universo quisesse enviar-lhe.
Milagrosamente a filha salvou-se e nos meses seguintes de recuperação, Ana agradeceu e esperou....
Profissionalmente as coisas começaram a correr mal, ainda hoje Ana não sabe se a conjuntura para os negócios ficou má ou se, sem saber porquê, se tornou incapaz, e os resultados negativos surgiram. Mas ela tinha esperança e esperou......
Alguns meses se passaram, e de novo, numa noite igual a tantas outras, o marido de Ana o seu marido, recolheu numa mala de viagem 27 anos de vida em comum, sonhos, ilusões, bons e maus momentos e foi-se embora. Tinha conhecido outra mulher e queria “viver o que não tinha vivido “ como afirmava aos amigos.
Aos poucos dias, a Mãe de Ana já sobrecarregada de doença, sofreu uma trombose que a deixou em incapacidade física completa mas não mental, pelo que Ana ainda conseguia ler no seu olhar e apenas no olhar, o sofrimento, não por ela mesma, mas pela filha, o que era um peso redobrado para Ana.
Sentia também a dor, o atordoamento dos filhos, a acusação não expressa, a desilusão, afinal a Mãe deles não era infalível, havia coisas que ela não podia resolver. Sentia a perda de outros membros da família, a do marido que sempre considerara e sentira como sua e que sem ela entender o porquê, se afastaram também. Sentia a estrutura familiar a sua família a desabar, tijolo a tijolo.
Ana, juntou num molho: a tristeza pelo amor perdido, o orgulho ferido, a solidão que assomava, o desaparecimento da auto-estima e atou este molho com um laço de amargura cujo peso começou a afundá-la. Mas ela tinha Fé e esperou.
E então surgiram muitas pessoas, cordas, de diversos tipos e tamanhos que se desenrolavam até ela, uma em especial, uma corda sábia e forte que a mantinha á tona, explicando, ensinando, e que lhe disse, agora sobe.... “ se quiseres claro “ porque esta corda além de sábia e forte é também muito democrática. Havia também cordas ensebadas que ao tentar assir-se delas a faziam cair de novo. Havia cordas vistosas mas curtas, que apesar da oferta pareciam recuar sempre que tentava apanhá-las.
Surgiu também, e do nada, outra pessoa, uma espécie de trampolim, (como aqueles que se usam nos circos para receber os trapezistas) e que serviu de amparo quando Ana caía. Além de a amparar, esta pessoa fê-la conhecer sensações novas, gerar ilusões, repor a auto-estima, e algo que há muito não fazia, sonhar. Tudo isto a catapultou para fora do poço, devolveu-a ao seu Eu, á sua dimensão, ao lugar donde devia estar para continuar a sua missão.....
A sua mente voltou a ganhar lucidez, o seu Espírito abriu-se, a sincronicidade tornou-se habitual, faz parte do seu dia-a-dia. Tal como o fio que se vai puxando de uma meada, Ana vai recebendo informação de diversas fontes. Aquilo que precisa saber, aparece na hora certa. Mas ela agora sabe que as coincidências não existem, tinha chegado a hora do despertar.
A sua família formava-se de novo, os tijolos agrupavam-se. Não com as mesmas características, a sua família era agora muito maior, o seu coração abriu-se para acolher a todos aqueles que foram cordas para ela. As boas e as menos boas, e também para aqueles a quem ela agora possa servir de corda. A sua família, são também os companheiros de jornada, que devido a essa mesma sincronicidade se juntaram e buscam como um todo, a Ascensão.
Os filhos, provavelmente reconfortados pela serenidade que Ana demonstra agora, iniciaram a reaproximação. E ela tenta que eles entendam que os elos que os unem são indestrutíveis, separados, ou juntos. Que a situação vivida serviu para que ela os olhasse como entidades autónomas, cada um com as suas características, a quem ama de forma incondicional, com menos apego e mais respeito. Aquela pessoa que se cruzou no seu caminho e cuja ternura a fez desabrochar, resplandecer (sim, porque o amor dado ou recebido tem esse poder de nos fazer irradiar luz) o seu querido trampolim, ainda que distante, será para sempre parte integrante do seu Ser. Porque o Amor está em nós, e tal como uma tatuagem, fica gravado no nosso Espírito e como ele, torna-se Imortal.
Ana nunca teve apego ao dinheiro, mas tinha-o á capacidade que o dinheiro lhe dava de oferecer bens materiais a quem a rodeava. Talvez fosse esta uma forma de suprir a sua insegurança e necessidade de ser amada. Hoje, Ana já não pode oferecer bens materiais, mas sabe que tem outros bens muito mais valiosos, o seu carinho, tolerância, compreensão, o seu abraço, ou simplesmente, quando o seu amigo chora, ela junta as suas, ás lágrimas dele.
Consciente dos seus pontos fracos, Ana tenta transmuta-los, nem sempre com êxito, mas tenta. Soma todos os seus apegos perdidos e sente o quanto ganhou ao despertar para outra realidade, a de que somos um Espírito a ocupar temporariamente um corpo físico, e não um Corpo com um espírito.
E que a nossa perspectiva tem que ser a do Todo, a da Unidade.
Tem diariamente muitas lutas pela frente, mas vê-as como a forma de servir, de cumprir o seu contracto. Aprende a controlar o seu ego, para que o apego não volte a ser a demonstração das suas inseguranças. Aprende a que o Amor incontido que sente jorrar dela, seja de todo, incondicional …
Este é o caminho de Ana, caminho que ela está a percorrer, e como diria o grande Machado: “faz-se caminho ao andar “ ................. Que ela continue no trilho certo.
Aqui termina o resumo de dois anos (2001 a 2003) da vida da minha amiga Ana. Ela deseja que as suas vivências possam servir de: exemplo, estimulo e força, a quem deles possam precisar. Ela envia-vos todo o seu Amor.
A.
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